quinta-feira, 8 de abril de 2010

Difícil chegar ou sair



Jornal de Brasília

08/04/2010

Transporte público insuficiente, falta de paradas de ônibus e superlotação são reclamações de moradores de Águas Claras e trabalhadores que dependem da
condução pública para chegar ou sair da cidade.Nas avenidas principais, aglomerados de pessoas esperam ônibus durante horas em pontos onde sequer há sinalização. O guarda-chuva serve, para alguns, de abrigo contra o sol e a chuva, enquanto os menos prevenidos aguardam o transporte público
sem qualquer proteção.

A auxiliar de serviços Francisca da Cruz, de 28 anos, já foi à pé do centro de Águas Claras até o Taguatinga Shopping por causa da falta de transporte. "Eu moro no P Norte (Ceilândia Norte), estava tarde e o ônibus não passava", conta. A amiga Genilda Pereira, de 35 anos, também mora na Ceilândia e garante que já esperou ônibus até tarde, sem nenhum êxito. Genilda acorda todos os dias quando ainda está escuro para ir ao trabalho. "Às 5h já estou na parada esperando ônibus", enfatiza a mulher, que precisa pegar um ônibus da Ceilândia para Taguatinga e, depois, o metrô para chegar ao trabalho em Águas Claras. "Eu tiro do bolso o dinheiro da segunda condução porque a empresa paga apenas o valor de ida e volta". Segundo a auxiliar de serviços, no fim de semana a situação piora, porque o número de linhas é menor e o metrô funciona apenas até 19h. "Fica escuro, não tem parada de ônibus, é até perigoso ser assaltado".

Já Ismael Barbosa, de 45 anos, reclama da superlotação dos ônibus. Morador de Águas Lindas, o operário conta que o número de passageiros é maior do que o veículo comporta. "Os ônibus ficam muito cheios. A gente fica bem apertado no corredor, não dá para andar nem para se mexer".

Para o presidente da Associação de Moradores de Águas Claras, Júlio de Oliveira, a ineficiência do transporte público é um dos motivos para tantos engarrafamentos na Epia, via de acesso a cidade. "A cultura do carro é reforçada porque as necessidades das pessoas não são atendidas. Elas preferem usar o carro do que enfrentar chuva, lama, sol ou ficar horas esperando pelo ônibus". Segundo ele, a cidade foi concebida para ser atendida pelo metrô. "O problema é que o metrô tem horário e rotas limitadas e muitos ônibus não respeitam hora nem itinerário. As vans foram retiradas, mas até hoje não foram substituídas por ônibus ou micro-ônibus". O presidente da Associação garante que já se reuniu com a Administração de Águas Claras, a Secretaria de Transportes e até o Conselho de Segurança. "Esse problema eflete na segurança. A pessoa fica horas na parada escura, sem abrigo, uma presa fácil para bandidos".

JUSTIFICATIVAS
O Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) informou que atualmente 24 linhas atendem Águas Claras, assim como os ônibus que percorrem Ceilândia, Taguatinga e Recanto das Emas e passam pelo local. Segundo o DF- Trans, a demanda de transporte público na cidade foi avaliada por técnicos levando em conta os serviços do metrô.

O DFTrans avisou ainda que para criar uma nova linha os moradores devem organizar um abaixo-assinado. "A linha só é aberta se houver viabilidade financeira, isto é, uma demanda que justifique sua criação". Quanto às paradas de ônibus, a previsão é de que, até outubro, 39 sejam construídas em Águas Claras. Ao todo, 450 abrigos serão feitos em todo o Distrito Federal


Assumindo o Entorno

Mesmo com deficiência na prestação de serviços em algumas localidades, o GDF pode também assumir o transporte público do Entorno. Na manhã de ontem, representantes de cidades goianas vizinhas ao Distrito Federal discutiram com o governador em exercício, Wilson Lima, possíveis soluções aos problemas enfrentados por usuários de transporte público do Entorno, hoje fiscalizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Entre as soluções apontadas está um convênio que autorizaria o governo do DF a gerir plenamente o sistema de transporte desses municípios. O convênio será avaliado e pode ser assinado em 30 dias pelo GDF. Durante a reunião também foi debatida uma possível redução nos preços das passagens de ônibus que ligam o Entorno do DF a Brasília. Segundo os prefeitos das cidades, as altas tarifas dificultam que moradores destes municípios encontrem
emprego na capital.

Desde junho do ano passado, o preço do ônibus de Planaltina de Goiás para Brasília passou de R$ 4,05 para R$ 4,25, sendo que 30 mil moradores do município trabalham no DF. O prefeito de Planaltina de Goiás e representante da comissão que pede urgência na transferência de gestão para o GDF, José Neto, acredita que a mudança vai quebrar o monopólio das empresas de trans-
porte público que atuam no Entorno e colaborar para uma redução automática do valor das passagens. "Vai quebrar o monopólio, a passagem pode reduzir para R$ 3, além de valorizar o idoso, as grávidas e os portadores de necessidades especiais que utilizam o serviço". Segundo ele, atualmente, 90% da população do Entorno que trabalha em Brasília corre risco de perder o emprego.

 Em Santo Antônio do Descoberto o problema do monopólio das empresas de transporte se repete. Cerca de 20 mil pessoas do município vêm para Brasília diariamente e apenas uma empresa oferece esse serviço. A ANTT informou que fez, no primeiro semestre do ano passado, uma minuta de convênio delegando ao Distrito Federal e a Goiás a responsabilidade pela licitação de empresas de transporte e a fiscalização dos mesmos nas cidades do Entorno. Segundo a Agência, até o momento nenhum dos governos tinha se posicionado. 

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