sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Entorno

TRIBUNA DO BRASIL

06/08/09

600 mil vêm de ônibus para o DF

Passageiros reclamam de estado dos coletivos que atendem a região

No terceiro dia da série Entorno, o poder sem retorno, o jornal Tribuna do Brasil apresenta mais um problema que afeta a região: a precariedade do transporte público. Há dois anos, a recepcionista Marli Borges dos Santos mora em Planaltina de Goiás, cidade a 63 quilômetros do Plano Piloto. Ela trabalha no Sudoeste e para ir ao trabalho utiliza o sistema de transporte semi-urbano do Entorno. A Associação dos Usuários do Transporte Coletivo de Brasília e do Entorno (Autranc) estima que, ao dia, aproximadamente 600 mil moradores das cidades do Entorno, que ficam a menos de 75 quilômetros de Brasília, utilizam ônibus para vir trabalhar nas cidades do Distrito Federal.

Hoje, o preço das passagens de ônibus Entorno-Brasília varia entre R$ 2,95 e R$ 4,25. Apesar dos trabalhadores pagarem uma tarifa cara, o serviço prestado pelas empresas desagrada os usuários, porque é precário. Entre as reclamações, constam ônibus quebrados, velhos e superlotados. Se em Brasília há mais de três anos não há aumento na tarifa, nessas cidades o reajuste é anual. Já contei até 120 pessoas dentro do ônibus. Tem que se fazer alguma coisa. Não sabemos a quem recorrer, disse a empregada doméstica Ivone Nogueira dos Santos, 42 anos. Pagamos uma passagem muito cara, mas não temos conforto nenhum, reclamou a passageira de Águas Lindas de Goiás.

Se para os usuários do transporte de Águas Lindas de Goiás a passagem é cara e não justifica o desconforto nos ônibus, para a analista de crédito Geovana Aguiar, 36 anos, o baixo valor da passagem é uma justificativa para as más condições do transporte de Valparaíso de Goiás. Acho que os ônibus são quebrados justamente porque a passagem daqui é barata. Não tem outra explicação, reclama. A tarifa que faz ligação do Plano Piloto à cidade goiana é de R$ 2,8.

A reportagem flagrou um ônibus da empresa Rápido Planaltina, que faz a linha para Planaltina de Goiás, saindo da rodoviária do Plano Piloto sem uma vidraça. Os passageiros reclamaram para o fiscal da empresa, mesmo assim, ele autorizou a saída do veículo. Esta não é a primeira vez que saímos da rodoviária à noite e sem um dos vidros. A viagem é longa, como não tem vidro faz muito frio, reclamou uma passageira. Os usuários alegam que não sabem para quem reclamar. Na maioria das vezes as reclamações são direcionadas às empresas, que não tomam providências.

Para pressionar mudanças nas condições do transporte, os moradores de Santo Antônio do Descoberto, Planaltina de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Valparaíso, Cidade Ocidental, Novo Gama, Luziânia - cidades que ficam a menos de 75 quilômetros de Brasília, todas do estado de Goiás -, fazem quase mensalmente abaixo-assinado encaminhado às prefeituras exigindo mudanças. Além dos usuários, os prefeitos também exigem melhorias.

Licitação para novas empresas é mistério

Segundo a presidente da Associação dos Usuários do Transporte Coletivo de Brasília e do Entorno (Autranc), Lidiane Mendes, há mais de 20 anos a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), órgão responsável pelo transporte no Entorno, não abre licitação pública para escolher novas empresas para operarem nessas linhas. Além disso, a agência não tem contingente suficiente para fiscalizar as empresa. Não há transparência nessas licitações. Os ônibus são velhos e faltam agentes para fiscalizar, reclamou.

Prefeitos do Entorno pedem que sejam feitas licitações para quebrar o monopólio das empresas. Na maioria das cidades da região, apenas uma empresa faz o transporte coletivo, mas como essas cidades cresceram muito nos últimos anos, os ônibus não são suficientes para transportar a demanda de passageiros.

Para o prefeito de Planaltina de Goiás, Zé Neto, a ANTT não tem compromisso com os usuários. Eles têm compromisso apenas com os donos das empresas. Queremos mais de uma empresa operando na nossa cidade, para dar mais dignidade à população, pede. Cerca de 40 mil pessoas de Planaltina de Goiás usam ônibus para Brasília quase diariamente.

Em Águas Lindas de Goiás, as reclamações são as mesmas. Apesar de duas empresas de ônibus operarem no município goiano, as reclamações dos passageiros não mudam: pedem melhores condições dos serviços prestados. O secretário de Transporte de Águas Lindas de Goiás, Paulo Roberto Ribeiro, também pede a quebra do monopólio das empresas que atuam dentro do município. Ele explica que o valor da passagem cobrado no Entorno não é justificada, pela proximidade de Brasília.

Outra reclamação dele é que os ônibus usam as vias dos municípios, mas quem recebe os tributos é a ANTT.

Não há previsão para criação de linhas e concorrência

De acordo com a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), as empresas de transporte regular de passageiros estavam com suas permissões válidas até outubro de 2008. Para evitar a descontinuidade da operação dos serviços, foram publicadas as resoluções 2.968/2008 e 2.869/2008, que transformaram todas as permissões para autorizações especiais. Não há previsão para nova licitação.

Atualmente, o governo do Distrito Federal tem convênio com a ANTT para fazer fiscalização dos ônibus do Entorno. De janeiro a junho deste ano, o DFTrans notificou 109 ônibus dessas empresa. Entre as infrações, constam falta de freios, pneus carecas, bancos soltos e vidraças soltas, o que coloca em risco a vida dos passageiros.

O secretário de Transporte do DF, Alberto Fraga, disse que é preocupante a situação. Segundo ele, apesar do convênio com a ANTT, a fiscalização do DFTrans não é suficiente.

O secretário disse que será aprovado até o mês de setembro deste ano o Plano Diretor do Transporte, que colocará limites para as empresas do Entorno.

Prefeito fez greve de fome e conseguiu passagem a R$ 3

No último dia 1º, após oito dias em greve de fome manifestando contra o aumento das passagens de ônibus no Entorno, o prefeito do município de Planaltina de Goiás, Zé Neto (PSC), teve seus pedidos atendidos. O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, autorizou, em caráter emergencial, a criação de nova linha de ônibus do DF para atender Planaltina de Goiás-Brasília, ao preço de R$ 3. Há uma semana, as passagens que antes custavam R$ 4,05 foram reajustadas para R$ 4,25. A nova linha funciona desde a última segunda-feira. A medida beneficia mais de 30 mil moradores da cidade.

De acordo o prefeito José Neto, a empresa responsável pelo transporte local - Rápido Planaltina - não atende as necessidades do povo por estar em condições precárias, e, segundo ele, presta serviços sem ter passado pelo processo de licitação. Queremos tirar o monopólio da empresa e a comunidade da escravidão para tentar arrumar um emprego no DF, disse.

A solicitação dos moradores é de que as cooperativas do DF e Goiás fizessem um sistema integral de transporte urbano nas cidades vizinhas de Brasília.

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