sábado, 29 de agosto de 2009

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Tensão aumenta em Planaltina de GoiásDois acidentes ocorridos nos últimos dias podem estar relacionados à disputa por passageiros

Leilane Menezes

Publicação: 28/08/2009 08:34 Atualização: 28/08/2009 08:55


Usuários do transporte público de Planaltina de Goiás estão com medo de andar de ônibus. O problema vai além da frota sucateada e do alto preço das passagens, cujo valor chega a 4,25 (ler Memória). Dois episódios que ocorreram nos últimos dias deixaram a população receosa. Por volta das 18h30 de quarta-feira, um coletivo se dirigia para o terminal na divisa entre Distrito Federal e Planaltina de Goiás, na DF-128, quando um GM Marajó, placa JEQ 4951 – Águas Lindas (GO), começou a seguir o veículo, que estava vazio, e bateu na traseira. O outro caso envolveu uma colisão entre uma van pirata e um coletivo da Rápido Planaltina. Há suspeitas de que os incidentes sejam motivados pela disputa por passageiros.

Marajó pegou fogo depois de bater em ônibus. Polícia investiga se o episódio foi de propósito ou acidental - (Rafael Ohana/CB/D.A Press)
Marajó pegou fogo depois de bater em ônibus. Polícia investiga se o episódio foi de propósito ou acidental
O motorista da Marajó, Carlos Roberto Rodrigues de Souza, 32 anos, bateu duas vezes no parachoque traseiro do ônibus, segundo testemunhas. Em seguida, o homem teria ateado fogo no interior do veículo. Quem passava pelo local contou à polícia que, aparentemente, Carlos tentava encaixar o carro embaixo do coletivo para que o fogo se espalhasse.

O carro não tinha os bancos traseiros nem vidros. Carlos carregava duas garrafas pet cheias de gasolina no porta-malas. Mais de 200 pessoas estavam no local. Um grupo de passageiros revoltados tentou linchá-lo, mas ele foi salvo pela Polícia Militar. Carlos se defende. “A gasolina era para abastecer. Bati no ônibus quando olhei para trás para ver o que estava acontecendo”, alega o homem, que é motorista de ônibus da Viação Santo Antônio e mora em Águas Lindas (GO). O veículo está em nome de Joveci Dias Pereira. Mas Carlos diz não saber onde encontrá-lo e nem forneceu o telefone do proprietário. Ninguém se feriu no incidente.

Investigação
O Centro Integrado de Operações de Segurança de Planaltina de Goiás (Ciops) investiga se houve acidente ou crime. Quatro munições calibre .380 foram encontradas com Carlos. Ele deve ficar preso até o fim da investigação. O suspeito trabalha na empresa do Grupo Amaral, desde 2003.

O prefeito de Planaltina, José Olinto Neto, suspeita que o acidente com o carro em chamas tenha sido uma represália do Grupo Amaral ao novo transporte. “O que ocorreu pode ser chamado de atentado terrorista. A Rápido Planaltina resolveu partir para a violência”, acusa. A empresa, que antes tinha o monopólio da atividade, tem oito ações na Justiça contra a prefeitura. O prejuízo é de 3,2 mil passageiros a menos transportados todos os dias pelo grupo. São R$ 13.600 perdidos todos os dias na Rápido Planaltina.

Às 5h de ontem, outro incidente iniciou uma confusão entre motoristas da Rápido Planaltina e de vans piratas. O condutor de um ônibus tentou “tirar um fino” do outro carro. Mas não calculou a distância e quebrou o farol do veículo. Indignado, o coordenador do transporte alternativo em Planaltina, Carlos Lafaiete, e outras pessoas que estavam na van pararam o ônibus e discutiram com o motorista. “Ficou óbvio que ele bateu de propósito. Foi provocação”, disse Lafaiete.

O gerente operacional do Grupo Amaral, Sebastião Rodrigues, nega a responsabilidade da empresa sobre os dois episódios. “Não temos nada a ver com isso. Daqui a pouco, vão atribuir responsabilidade ao grupo por todos os acidentes que ocorrerem em Planaltina”, ressaltou. O Sindicato dos Rodoviários do Entorno, por sua vez, confirmou que os ânimos (1) andam exaltados entre motoristas do transporte legal e os do irregular. Muitos estão sob ameaça de demissão, segundo Rodrigues, que pode ocorrer por conta da pirataria.

1 - Raiz do problema
O clima em Planaltina (GO) está tenso desde o último dia 3, quando passou a circular uma linha da São José, que faz o trajeto entre Goiás e DF por R$ 3, menos do que o valor cobrado por outras empresas. Depois da fronteira, veículos cedidos por empresários e moradores atendem à demanda.

PARA SABER MAIS
Protestos e greve

O aumento no preço da passagem de ônibus no Entorno motivou manifestações de revolta na população local. O bilhete custava R$ 3,95 e subiu para R$ 4,25, em algumas regiões. Em Águas Lindas, o povo foi às ruas e incendiou cinco ônibus da empresa Taguatur. Os cobradores e motoristas do Entorno também cruzaram os braços.

Em Planaltina (GO), o prefeito, José Olinto Neto, fez greve de fome durante dias. Com o ato, ele conseguiu sensibilizar o GDF, que autorizou uma linha do Plano Piloto a levar os passageiros até a fronteira de Goiás por R$ 3. Os veículos que fazem o transporte do Entorno para o DF são semiurbanos, ou seja, ultrapassam a fronteira de dois estados. Por isso, são regulados pela Agência Nacional de Transportes Terrestre.

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