sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Micros

CORREIO BRAZILIENSE

07/08/09

Perigo nos micro-ônibus

Profissionais do sistema denunciam más condições dos veículos e carga de trabalho pesada. Patrões negam irregularidades e governo local promete apertar a fiscalização

O motorista de micro-ônibus José (nome fictício) sai da casa onde mora, no P Sul, em Ceilândia, todos os dias, às 4h30, para trabalhar em Santa Maria. O expediente dele começa às 5h20 e termina por volta das 22h, com menos de uma hora para almoço. José dribla o cansaço e se mantém atento aos perigos do trânsito para proteger a própria vida e a dos passageiros. Segundo o acordo coletivo entre patrões e empregados dessa categoria, a carga horária deveria ser de sete horas e 20 minutos, de segunda a sexta-feira e durante um fim de semana por mês.

A situação ainda tem um agravante: o freio do veículo que José dirige, às vezes, falha. Segundo o motorista, o carro bateu na traseira de um ônibus, pois a engrenagem não funcionou. O mecanismo do micro-ônibus é problemático. Há apenas um balão para controlar o funcionamento dos freios e das portas, que fica sobrecarregado e gera problemas. Deviam ser dois balões, alega. José presta serviços à Cooperativa do Transporte Público Alternativo do DF (Coopertran), dona de 100 micro-ônibus, quase um quarto da frota total, que é de 450 veículos.

O presidente da Coopertran, Crispiniano Espíndola Vanderlei, confirma os pequenos acidentes por conta do freio. Os veículos que compramos vêm com catraca de regulagem mecânica. Essa parte tem de ser automática para não atrapalhar muito o freio, explica. Foi um erro na hora da compra dos veículos. Já encomendamos os reparos à fábrica, garante. O Sindicato dos Trabalhadores em Micro-ônibus recebe denúncias diariamente sobre a carga horária da categoria e o funcionamento dos veículos. Há quem faça mais de 10 horas por dia. Protocolamos denúncias no Ministério Público do Trabalho.Falta fiscalização(1), diz o presidente da entidade, Diógenes Nery dos Santos. Atualmente, o sindicato tem registrados 2.400 trabalhadores de micro-ônibus.

Os trabalhadores denunciam outras irregularidades, como os pneus carecas, extintores de incêndio vazios, ausência de cinto de segurança e o não pagamento de horas extras. Trabalhamos e não ganhamos nem hora extra nem folga. É uma vida difícil. Quem sai prejudicado é o passageiro, que é conduzido por alguém esgotado, diz um cobrador. O presidente da Coopertran nega as irregularidades. Trabalhamos dentro da lei. Ninguém fica no serviço mais de sete horas e 20 minutos por dia, afirma Vanderlei. O presidente da Cooperativa de Transporte Alternativo do Recanto das Emas (Cootarde), Augusto Maia, também se defende. Compramos, no sábado,170 pneus. Já precisa mesmo trocar. Porém, fazemos manutenção todo dia, diz.

Balanço positivo

Mesmo diante dos problemas, o secretário de Transportes do DF, Alberto Fraga, faz um balanço positivo do primeiro ano de funcionamento do novo sistema. É importante lembrar que o sistema melhorou muito com a substituição das vans. Agora, há uma tabela de horário, se ela não for cumprida a população reclama. Ainda estamos longe do ideal. As pessoas reclamam de superlotação, mas se colocarmos mais micro-ônibus eles vão andar vazios e dificultar o bom funcionamento do sistema, relata Fraga.

Sobre a preocupação com o funcionamento dos veículos, o secretário afirmou desconhecer as falhas. Até agora, só teve a primeira vistoria. Eles não podem rodar com o pneu careca em hipótese alguma. Eu vou determinar à fiscalização do DFTrans que faça uma blitz para checar as condições de todos micro-ônibus. Mas há fiscais nas ruas todos os dias, conclui o secretário.

1 - LEGISLAÇÃO

O Código Unificado dos Transportes do DF regulamenta todo o sistema. A Secretaria de Transportes pretende mudar o código, por meio de uma votação no Conselho de Trânsito, para adequá-lo aos micro-ônibus. Para esses veículos, que são mais frágeis, a fiscalização deve ocorrer de três em três meses.

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